terça-feira, 26 de maio de 2015

Missão Ad Gentes



A missão aos povos sempre foi, é e sempre será a grande tarefa da Igreja, assumida por suas comunidades às vezes com certa resistência. Repetidas vezes se tenta minimizar, postergar ou até depreciar esse desafio, com a desculpa‐urgência que a missão está aqui no nosso meio, ou que a missão passou a ser outra coisa. Acabar com a missão ad gentes é acabar com a graça da missão. Assim como a palavra “missão”, também a palavra “míssil” vem da mesma raiz “missio”, que quer dizer “envio”. O míssil não é feito para ficar parado. Da mesma forma a Igreja também não é feita para ficar apenas constituída em suas instituições, em seus assentos e em suas estruturas: ela foi criada para pegar fogo e se lançar ao mundo. Essa é sua natureza!

Talvez o receio de invadir o espaço do outro, de importunar as culturas, de promover sem
querer uma conquista espiritual com as melhores das intenções, nos leve a um preconceito e a uma relutância contra essa perspectiva. Os traumas e as cicatrizes do passado contam de profundas feridas na alma dos nossos povos. É uma história que não gostaríamos de repetir sem mais nem menos.

É fundamental, como dissemos, ter discernimento, atitude penitencial e aprender a prestar
atenção às assimetrias criadas por sensos de superioridade e aproximações voluntaristas. Por outro lado, o Pe. Comblin nos convida também a essa interessante reflexão:
“A irredutibilidade das culturas tende a desanimar toda tentativa missionária. Em certos
casos, ela levou a propor certas posições pastorais que são válidas até certo ponto e de modo muito relativo. Assim a evangelização do semelhante pelo semelhante. O evangelho tende a mostrar que, muito pelo contrário, a evangelização radical é obra do estrangeiro. 

Uma mensagem comunicada pelo semelhante ao semelhante reduz‐se facilmente a um puro monólogo. O interlocutor ouve‐se a si mesmo e encontra prazer e satisfação na palavra, porque ele se ouve e se reconhece. Com essas condições não há evangelização possível. Pois esta vem da parte de fora e exige que o sujeito se abra a uma novidade e esteja disposto a romper os seus hábitos mentais e vivenciais. Jesus foi um estrangeiro, e todos os missionáriostambém aparecem como estrangeiros. Não procuram ocultar essa condição. Jesus não quis atenuá‐la no caso dos seus discípulos: não os mandou para os seus semelhantes e sim para todas as nações do mundo cuja cultura lhes era completamente alheia”.

E continua: “Crer na missão é também crer que há em todas as pessoas uma abertura fundamental, uma capacidade de recepção de mensagens situadas além da cultura, um apelo virtual a uma luz própria. Crer na missão é crer que a pessoa não fica presa dentro da sua cultura, isto é, dentro de uma personalidade autônoma e fechada”.25

Que o Espírito do Senhor nos ensine sempre a crer firmemente na missão, a não viver uma fé introvertida e intimista, e nos abra continuamente as portas para sair de nós mesmos, de
nossas comunidades e movimentos, de nossas paróquias e de nossas dioceses. “Para nos
converter e uma Igreja cheia de ímpeto e audácia evangelizadora, temos que ser de novo
evangelizados” (cf. DAp 549) no encontro com os povos, com os outros, com os pobres, além de toda fronteiras, como discípulos missionários comprometidos com a transformação do Brasil para um mundo melhor.

Pe. Estêvão Raschietti, sx

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