quarta-feira, 27 de maio de 2015

VIVER E COMUNICAR A VIDA NOVA EM CRISTO




Então, em primeiro lugar, o que é “missão” para o DAp? A terceira parte do texto responde logo de

cara a essa pergunta retomando Ad Gentes 2: “‘A Igreja peregrina é missionária por natureza,

porque tem sua origem na missão do Filho e do Espírito Santo, segundo o desígnio do Pai’ (AG 2).

Por isso, o impulso missionário é fruto necessário à vida que a Trindade comunica aos discípulos”

(DAp 347).

A primeira novidade da declaração conciliar está na palavra “natureza” que quer dizer “essência”: a

Igreja é missionária por sua “essência”. Essa essência é a própria essência de Deus, porque “este

desígnio brota do ‘amor fontal’, isto é, da caridade de Deus Pai” (AG 2). Em outras palavras, a

missão vem de Deus porque Deus é amor, um amor que não se contém, que transborda, que se

comunica, que sai de si já com a criação do mundo, e conseqüentemente ao pecado da humanidade,

com a história da salvação para reintegrar as criaturas na vida plena do Reino. Esse transbordar

histórico da Trindade Imanente foi chamado de Trindade histórico-salvífica que configura a missão

de Deus (missio Dei). De alguma forma, o próprio Deus se auto-envia pela missão do Filho e do

Espírito, através dos quais o próprio Pai se revela como amor (cf. Jo 14,9).2 Em suma, Deus é

missão: a missão existe com Deus, diz respeito ao que Deus é e não, primeiramente, ao que Deus

faz. Por tabela, a missão da Igreja não teria, a princípio, um seu por quê, não surgiria de uma

necessidade histórica de sobrevivência ou de domínio, mas é um impulso gratuito, de dentro para

fora, que tem como origem e finalidade a participação à vida divina (cf. DAp 348).

A segunda palavra mágica é “missionária”. A Igreja é por sua natureza missionária. Isso constitui

uma revolução no próprio conceito de Igreja, que procede da missio Dei. Não é mais a Igreja que

envia missionários em qualidade de “missionante”, mas é ela própria enviada como “missionária”.

Seu envio não é conseqüência: é essência. A Igreja “é” ao ser enviada: se edifica em ordem à

missão. Não é a missão que procede da Igreja, mas é a Igreja que procede da missão de Deus. A

missão é antes de tudo: eis a mudança de paradigma. A eclesiologia, portanto, não precede a

missiologia.3 A atividade missionária não é tanto uma ação da Igreja, mas é simplesmente a Igreja

em ação. Ou como, diria Moltmann, “não é uma igreja que ‘tem’ uma missão, mas ao contrário, na

 missão de Cristo que se cria uma Igreja. Não é uma missão que deve ser compreendida a partir da

Igreja, mas o contrário”.4 Nisso se define a própria identidade da Igreja.

Logo em seguida, depois de apresentar o fundamento da missão, o DAp fala de sua finalidade: “a

grande novidade que a Igreja anuncia ao mundo é que Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem, a

Palavra e a Vida, veio ao mundo para nos fazer ‘participantes da natureza divina’ (2 Pd 1,4), para

que participemos de sua própria vida” (DAp 348).

No que consiste essa “participação da natureza divina”? Em substância é participação à missão,

“essência” de Deus. Participar de Deus é participar da própria vida de Jesus, de sua missão de estar

a serviço do Reino da vida, oferecendo a vida plena para todos: esse é o conteúdo fundamental da

missão (cf. DAp 361). O Evangelho de Jesus é sua própria vida: traz a boa nova de um Deus Pai,

humano, próximo a qualquer pessoa, libertador da opressão. O nome Jesus quer dizer “Deus salva”:

“Ele é o único Libertador e Salvador que, com sua morte e ressurreição, rompeu as cadeias

opressivas do pecado e da morte, revelando o amor misericordioso do Pai e a vocação, dignidade e

destino da pessoa humana” (DAp 6).


Pe. Estevão Raschietti

Nenhum comentário:

Postar um comentário