domingo, 31 de maio de 2015

Paróquia Missionária - parte 1



Objetivo:
Tornar a paróquia mais missionária, a partir de cada comunidade, suscitando e formando discípulos missionários numa dinâmica multiplicadora entre setores e CEBs.

Metodologia:
De que forma? Oração, Palavra de Deus, setorização e ação missionária de cada comunidade para “Que todos sejam um – (Jo 17,21)”. 

Desenvolvimento:
 O primeiro passo é explicar às lideranças da paróquia (CPP, CPC, CAEP) sobre o desenvolvimento do projeto. O segundo passo é suscitar um grupo de pessoas, a nível paroquial, para formação prevista. Esse grupo será o responsável em ajudar a comunidade escolhida a viver o processo missionário. O processo, numa única comunidade, pode demorar um ano ou mais. Depois que essa comunidade passar por todo o processo, irá ajudar outra (s) comunidade (s) a vivê-lo. Nisso se dá a dinâmica multiplicadora. O tempo que se levará para que todas as comunidades passem pela experiência na paróquia não pode ser acelerado. É preciso que a experiência seja bem vivida e experimentada. Lembrando que este projeto não é uma pastoral ou movimento a mais na paróquia, sim uma união de todas as pastorais e movimentos.

O objetivo é colocar todas as pastorais, movimentos e forças da comunidade em estado de missão permanente e suscitar discípulos missionários que atuem na sua comunidade e, depois, em outras. A metodologia prevê a discussão e elaboração paroquial conjunta do processo, formação e reflexão com CPP,CPC, CAEP e quem quiser participar. Não é saudável que o pároco, religiosos ou alguns poucos escolhidos pelo pároco sejam mentores do processo. Depois, formação para o grupo que vai ser o responsável pelo projeto a nível paroquial. 

Tal etapa nós chamamos de “Primeiro Anúncio”. Este Anúncio pode ter até três momentos, dependendo da assimilação do conteúdo pela comunidade. Todos são convidados a participar da elaboração do projeto missionário, refletindo e opinando sobre temas, agenda e caminhos a serem feitos. É momento em que se busca formar setores e CEBs (pequenas comunidades) na comunidade. O processo poderás ser diferente em cada comunidade. O importante é respeitar o objetivo, que é a suscitação de setores e pequenas comunidades para se viver a fé. O processo é mutável, não sagrado. 

O “Segundo Anúncio” é a vivência da Palavra de Deus e a continuação da formação do discipulado em CEBs (pequenas comunidades) missionários. 

O “Terceiro Anúncio” é a celebração da caminhada numa unidade de setores e CEBs. 

O “Quarto Anúncio” é a perseverança da caminhada dos setores e CEBs e, possivelmente, a efetivação destes como comunidade. A previsão é que há mais segurança para ajudar outra comunidade a viver o mesmo processo. Aqui se configura a missionariedade permanente paroquial pela ação missionária constante: fora e dentro da comunidade.

sábado, 30 de maio de 2015

COMIDI’s, COMIPA’s e GAM’s



Estruturação de COMIDI’s, COMIPA’s e GAM’s em 8 pontos:


Os 4 pontos fundamentais:

1.       Fundamentos: Ter uma visão de missão ligada à natureza da Igreja. Teologia da Missão atualizada e correta, pelo Vat. II e Aparecida. Missionário não apenas como um âmbito.
o    “Não é uma Igreja que tem uma Missão, mas é a Missão que tem uma Igreja!”

2.       Conversão da Igreja: caminho de conversão missionária. Espiritualidade Missionária.
o    "Só uma Igreja Povo de Deus pode ser uma Igreja Missionária."

3.       Pastoral Missionária (local): Missão Continental, colocar a Igreja em Estado Permanente de Missão. Sair, ir ao encontro dos presos, enfermos, famílias.
o    MISSIONÁRIO = ENVIO

4.       Animação Missionária (Universal): feita com a comunidade paroquial e diocesana, é um convite a se abrir para além de suas fronteiras.
o    "O nosso povo é chamado a ser irmão de outros povos."

Os 4 pontos norteadores da Animação Missionária:

1.       Papel da AM (Animação Missionária):

o    A Animação Missionária "tem que ter um local central na Igreja Local" (RMi).

o    Ver na Cooperatios Missionaris o papel da AM.

o    Refletir em nível de pastoral orgânica.

2.       Tarefas da AM:

o    Informação

o    Formação

o    Animação - criar eventos

o    Cooperação - projetos, solidariedade com outras igrejas.

3.       Sujeitos da AM:

o    COMIPA / COMIDI: estes compostos por representantes das POM, Congregações Religiosas Missionária (CRB Dioc. por exemplo), representantes das Igrejas locais em caso de conselho diocesano e representantes das pastorais em caso de conselho paroquial.

o    CDP / CPP são diferentes de COMIDI / COMIPA: CDP ou CPP focam a Pastoral da Igreja, já COMIDI ou COMIPA focam a Animação Missionária.

4.       Articulação da AM:

o    Precisa de gente convencida e capacitada na dinamização.

o    A articulação sempre depende de um pequeno grupo, seja em âmbito paroquial ou diocesano. Este pequeno grupo é aquele que puxa (não o que faz).

o    O ganho da AM depende do nível de sensibilização.

o    A Pastoral Vocacional é um aliado fortíssimo do COMIDI.


"A Missão não é meta, é caminho!"



ORAÇÃO
Espirito Santo, que desceste sobre os Apóstolos e os fizeste anunciadores do Evangelho, derrama os teus dons sobre cada um de nós e torna-nos sensíveis aos apelos e às necessidades dos nossos irmãos.
Desperta nos corações das crianças, jovens, adultos e idosos, o ideal missionário.
Dá força e coragem a todos quantos se entregam totalmente ao serviço da missão.
Amém!



sexta-feira, 29 de maio de 2015

A Eclesiologia do Documento de Aparecida - IGREJA E MISSÃO




O discurso inaugural do Papa Bento XVI na abertura da V Conferência teve uma importância decisiva na elaboração do Documento de Aparecida, pois o Papa apontava para os Desafios da sociedade de hoje:
·                    O inpacto da sociedade pluralista na fé dos católicos, que acaba por enfraquecer e relativizar a visão cristã da realidade. A visão cristã etava se limitando a visão de um humanismo atrofiado que por sua vez estava se tornando presa do hedonismo, do secularismo e do indiferentismo. Deste modo a identidade católica se vê questionada e desgastada em muitos membros da Igreja, especialmente  por cusa da ausência de uma autêntica formação cristã. Este desafio irá exigir uma séria reflexão sobre a identidade do discípulo de Cristo;   
·                    Um outro fator diz respeito às mudanças de cunho social, cultural, político e econômico que vem passando o nosso planeta.

A. A Igreja como realidade intrinsecamente missionária

Abordamos aqui, embora brevemente, a. fundamentação teológica da missão como componente essencial da Igreja. Já presente na ideia de Israel como "luz para as nações", ela se faz presente no Novo Povo de Deus através do envio dos apóstolos, por parte de Jesus Cristo, a proclamar o Evangelho do Reino a todos os povos. A Igreja recebe todo o seu sentido por estar a serviço do Reino de Deus. Esta verdade receberá uma formulação precisa no Concílio Vaticano II através da noção de sinal do Reino presente e futuro, a saber, "como sacramento universal da salvação" (LG 48).

B. Características marcantes desta missão da Igreja

Observemos primeiramente que o tema da missão atravessa todo o Documento. Desde o seu início se ressalta que a fé de muitos cristãos sofre o impacto da atual cultura secularizada exigindo, portanto, "uma evangelização muito mais missionária" (13). Igualmente a sua conclusão insiste mais de uma vez na índole missionária de todo cristão. Devemos sair ao encontro das pessoas para "partilhar o dom do encontro com Cristo", não podemos ficar passivos, devemos "proclamar que o mal e a morte não têm a última palavra", "somos todos testemunhas e missionários" (548). Para isso devemos nos converter, devemos "ser novamente evangelizadose" e estar "conscientes de nossa responsabilidade" pelos que estão afastados (549). Impõe-se "uma missão evangelizadora" que mobilize a todos (550) e que deve se concretizar numa "missão continental" (551).
O advento da sociedade moderna, pluralista, secularizada, fragmentada, significou o fim da época da cristandade. Na época da cristandade a fé cristã era hegemónica, fornecendo uma visão do mundo e normas éticas que moldavam a sociedade. Ter fé nada exigia de especial, já que todos a professavam, embora a vivessem diferentemente. A fé era um pressuposto implícito na cultura da época. A sociedade respaldava esta fé que, na maioria dos casos, carecia de uma formação cristã adequada. Deste modo podemos caracterizar a pastoral da Igreja neste período como uma "pastoral de conservação" que. hoje, se mostra insuficiente e inadequada. Devemos, portanto, voltar à pastoral de conquista que caracterizou a Igreja em seu início e que só foi abandonada pelo surgimento da cristandade e da união da Igreja com o poder civil a partir de Constantino. A atual sociedade pluralista nos oferece uma situação de Igreja em diáspora muito semelhante a dos primeiros séculos.

Outra característica do discípulo de Cristo como missionário, fortemente enfatizada em Aparecida, diz respeito à formação da própria identidade do cristão, que aparece como condição para sua vocação pastoral. Já que a fé não é mais simplesmente pressuposta, tal como se dava no passado, se impõe um encontro pessoal com Jesus Cristo. Aqui o texto retoma as palavras de Bento XVI na encíclica Deus Caritas Est (DCE 1): "Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou por uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá à vida um novo horizonte e, com isso, uma orientação decisiva" (243). Assim nasceu o cristianismo através da experiência dos primeiros discípulos com Jesus Cristo, fascinados com sua pessoa (244). Este traço também é requerido em nossos dias, pois a vocação cristã "responde ao desejo de realização humana, ao desejo de vida plena" (277).

Este encontro acontece hoje através da proclamação do kerigma (289) e implica uma experiência salvífïca pessoal, fundamento do compromisso com Jesus Cristo e com sua missão (290). Deste encontro se deslancha todo um processo de formação, que apresenta várias etapas, não só sucessivas, mas também interagindo entre si. O Documento descreve as etapas deste modo: o encontro com Jesus Cristo, a conversão, o discipulado, a comunhão e a missão (278). Discipulado está aqui significando um crescimento na vocação cristã, também do ponto de vista doutrinal, e comunhão lembra a dimensão comunitária da vida cristã com tudo o que daí decorre. Observa-se ainda que a missão é inseparável do discipulado, estando assim sempre presente na vida do cristão, embora se realize diversamente. Com relação aos pronunciamentos anteriores da Igreja o texto de Aparecida apresenta duas novidades. Primeiramente ao insistir na importância da experiência salvífïca pessoal no encontro com Jesus Cristo quando no passado a preocupação maior era com a catequese doutrinal. A outra novidade está na ênfase dada à evangelização quando no passado a pastoral estava mais centrada nos sacramentos. O fim da cristandade não se limita somente ao continente latino-americano.

A missão tal como a compreende o texto de Aparecida vem caracterizada como uma "missão a serviço da vida plena" (título do capítulo VII) e recebe base escriturística (355) no conhecido versículo de João: "Eu vim para que todos tenham vida e a tenham plenamente" (Jo 10,10). Esta vida é uma realidade em nós por participarmos da própria vida de Deus ao acolhermos a pessoa de Jesus Cristo (348), uma vida nova que nos incorpora a uma comunidade eclesial de outros que vivem esta mesma vida (349). Mas, como discípulos, devemos nos colocar a serviço da vida integrai como o fez Jesus ao curar enfermos, reintegrar excluídos na sociedade, saciar os famintos, perdoar os pecadores, conviver com todas classes de pessoas, sensibilizar-se pêlos mais pobres (353). Esta vida integral deverá ser vivida pelo próprio discípulo em todas as suas dimensões: "pessoal, familiar, social e cultural". Como diz expressamente o texto: "A vida em Cristo inclui a alegria de comer junto, o entusiasmo de progredir, o gosto de trabalhar e aprender, o prazer de servir a quem necessite, o contato com a natureza, o entusiasmo dos projetos comunitários, o prazer da sexualidade vivida segundo o Evangelho" (356).|

E já que "não podemos conceber uma oferta de vida em Cristo sem um dinamismo de libertação integral, de humanização, de reconciliação e de inserção social" (359), é importante que ela esteja presente em todas as atividades da Igreja. "Por isso a doutrina, as normas, as orientações éticas, e toda a atividade missionária da Igreja devem deixar transparecer esta oferta atraente de uma vida mais digna, em Cristo, para cada homem e para cada mulher da América Latina e do Caribe" (361).

Esta missão deve estar voltada também para os "novos areópagos e centros de decisão". O mundo da mídia, dos construtores da paz, dos que lutam pelo desenvolvimento e libertação dos povos, sobretudo das minorias, pela promoção da mulher e das crianças, pela ecologia e proteção da natureza. Também o areópago da cultura, dos experimentos científicos, das relações internacionais (491), sem deixar de lado a pastoral do turismo e do lazer (493). Urge formar pensadores e pessoas situadas nos centros de decisão: empresários, políticos, formadores de opinião, dirigentes sindicais (492).

Mas também deve se dirigir aos pobres, através de opções e de gestos visíveis que busquem mudar sua situação. Trata-se de "um âmbito que caracteriza de modo decisivo a vida cristã, o estilo eclesial e a programação pastoral" (394 citando Novo Millenium Ineunte 49). Daí, o apelo por "uma renovada pastoral social para a promoção humana integral" expressa no VIII capítulo do Documento (8.4), bem como a nos voltarmos aos rostos sofridos: habitantes de rua, enfermos, drogados, migrantes, presos (8.6).

Toda a Igreja se encontra envolvida nesta missão em prol do Reino de Deus. Todo discípulo é missionário, pois ao se comprometer com Jesus Cristo, necessariamente já se vincula com sua missão. Portanto testemunhar a morte e a ressurreição salvíficas de Jesus Cristo "não é uma tarefa opcional, mas parte integrante da identidade cristã" (144). A missão consiste mais em partilhar e comunicar uma experiência plenifícante na alegria e na gratidão (145). Esta afirmação volta continuamente ao longo do Documento conforme os variados temas vão sendo tratados. Uma afirmação que vale assim para todo o Povo de Deus, a começar pêlos bispos juntamente com suas respectivas dioceses, que devem "robustecer sua consciência missionária", indo ao encontro dos afastados da vida eclesial  através  de  uma pastoral  orgânica renovadana  qual  todos  os  da  diocese, independente de seus carismas, estejam inseridos (168 e 169). Também os párocos devem viver "num constante anseio de buscar os afastados e não se contentar com a simples administração" (201). "A V Conferência Geral é uma oportunidade para que todas nossas paróquias se tornem missionárias" (173). De fato, "todos os membros da comunidade paroquial são responsáveis pela evangelização de homens e mulheres em cada ambiente" (171). Para isso devem as paróquias "reformular suas estruturas para que sejam uma rede de comunidades e grupos, capazes de se articularem para que seus participantes se sintam e sejam, realmente, em comunhão, discípulos e missionários de Jesus Cristo" (172).

os diáconos permanentes devem se dedicar a "grupos humanos específicos e pastorais ambientais", bem como devem ser "apóstolos em suas famílias, em seus trabalhos, em suas comunidades e nas novas fronteiras da missão" (208). Os consagrados\as anunciam o Evangelho "através de sua presença, vida comunitária e obras", principalmente aos mais pobres, o que de fato se deu neste continente desde o início da evangelização. Deste modo colaboram "com a gestação de uma nova geração de discípulos missionários e de uma sociedade na qual a justiça e a dignidade da pessoa humana sejam respeitadas" (217).

O Documento deixa bastante explícito seu apelo por um laicato missionário. Devem ser formados para fazer frente aos desafios da atual sociedade, entrando no mundo complexo do trabalho, da cultura, das ciências e das artes, da política, dos meios de comunicação e da economia, enfim em contextos nos quais tormam presente a Igreja (174 e 210). Eles participam assim da "ação pastoral da Igreja, primeiramente pelo seu testemunho de vida e, em segundo lugar, com ações no campo da evangelização, da vida litúrgica e em outras formas de apostolado" (211). Por isso mesmo devem gozar de maior espaço de participação e serem incumbidos de ministérios e de responsabilidades para que possam viver de modo responsável seu compromisso cristão (211).

Só assim haverá uma efetiva corresponsabilidade e participação de todos os fiéis na vida das comunidades (368). Só assim, devidamente formados, poderão atuar como verdadeiros sujeitos eclesiais e competentes interlocutores entre a Igreja e a sociedade (497). Só assim poderão também assumir sua responsabilidade na vida pública (508). Portanto devem participar dos projetos pastorais diocesanos "no discernimento, na tomada de decisões, na planificação e na execução" (371), sendo assim "parte ativa e criativa na elaboração e execução de tais projetos" (213). O Documento observa, fazendo suas as palavras de Bento XVI em seu Discurso Inaugural (4), que há "uma notável ausência no âmbito político, comunicativo e universitário de vozes e iniciativas de líderes católicos de forte personalidade e de vocação abnegada que sejam coerentes com suas convicções éticas e religiosas" (502), lutando pela vida em todas as suas formas (503) e colaborando "na construção de uma cidade temporal de acordo com o projeto de Deus" (505). De fato, já nos acostumamos a assistir a uma imediata intervenção da hierarquia, sempre que surge algum problema que atinja a Igreja. Não vemos uma tomada de posição por parte de leigos católicos, conhecedores da matéria, que amadureçam a questão por seus pronunciamentos e debates, abrindo assim caminho para uma declaração posterior mais completa e profunda do bispo ou mesmo do episcopado. Naturalmente, além da correspondente liberdade para intervir, se requer uma formação adequada, o que não passou desapercebido aos bispos em Aparecida.

Reflexão feita por Mário de França Miranda


quarta-feira, 27 de maio de 2015

VIVER E COMUNICAR A VIDA NOVA EM CRISTO




Então, em primeiro lugar, o que é “missão” para o DAp? A terceira parte do texto responde logo de

cara a essa pergunta retomando Ad Gentes 2: “‘A Igreja peregrina é missionária por natureza,

porque tem sua origem na missão do Filho e do Espírito Santo, segundo o desígnio do Pai’ (AG 2).

Por isso, o impulso missionário é fruto necessário à vida que a Trindade comunica aos discípulos”

(DAp 347).

A primeira novidade da declaração conciliar está na palavra “natureza” que quer dizer “essência”: a

Igreja é missionária por sua “essência”. Essa essência é a própria essência de Deus, porque “este

desígnio brota do ‘amor fontal’, isto é, da caridade de Deus Pai” (AG 2). Em outras palavras, a

missão vem de Deus porque Deus é amor, um amor que não se contém, que transborda, que se

comunica, que sai de si já com a criação do mundo, e conseqüentemente ao pecado da humanidade,

com a história da salvação para reintegrar as criaturas na vida plena do Reino. Esse transbordar

histórico da Trindade Imanente foi chamado de Trindade histórico-salvífica que configura a missão

de Deus (missio Dei). De alguma forma, o próprio Deus se auto-envia pela missão do Filho e do

Espírito, através dos quais o próprio Pai se revela como amor (cf. Jo 14,9).2 Em suma, Deus é

missão: a missão existe com Deus, diz respeito ao que Deus é e não, primeiramente, ao que Deus

faz. Por tabela, a missão da Igreja não teria, a princípio, um seu por quê, não surgiria de uma

necessidade histórica de sobrevivência ou de domínio, mas é um impulso gratuito, de dentro para

fora, que tem como origem e finalidade a participação à vida divina (cf. DAp 348).

A segunda palavra mágica é “missionária”. A Igreja é por sua natureza missionária. Isso constitui

uma revolução no próprio conceito de Igreja, que procede da missio Dei. Não é mais a Igreja que

envia missionários em qualidade de “missionante”, mas é ela própria enviada como “missionária”.

Seu envio não é conseqüência: é essência. A Igreja “é” ao ser enviada: se edifica em ordem à

missão. Não é a missão que procede da Igreja, mas é a Igreja que procede da missão de Deus. A

missão é antes de tudo: eis a mudança de paradigma. A eclesiologia, portanto, não precede a

missiologia.3 A atividade missionária não é tanto uma ação da Igreja, mas é simplesmente a Igreja

em ação. Ou como, diria Moltmann, “não é uma igreja que ‘tem’ uma missão, mas ao contrário, na

 missão de Cristo que se cria uma Igreja. Não é uma missão que deve ser compreendida a partir da

Igreja, mas o contrário”.4 Nisso se define a própria identidade da Igreja.

Logo em seguida, depois de apresentar o fundamento da missão, o DAp fala de sua finalidade: “a

grande novidade que a Igreja anuncia ao mundo é que Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem, a

Palavra e a Vida, veio ao mundo para nos fazer ‘participantes da natureza divina’ (2 Pd 1,4), para

que participemos de sua própria vida” (DAp 348).

No que consiste essa “participação da natureza divina”? Em substância é participação à missão,

“essência” de Deus. Participar de Deus é participar da própria vida de Jesus, de sua missão de estar

a serviço do Reino da vida, oferecendo a vida plena para todos: esse é o conteúdo fundamental da

missão (cf. DAp 361). O Evangelho de Jesus é sua própria vida: traz a boa nova de um Deus Pai,

humano, próximo a qualquer pessoa, libertador da opressão. O nome Jesus quer dizer “Deus salva”:

“Ele é o único Libertador e Salvador que, com sua morte e ressurreição, rompeu as cadeias

opressivas do pecado e da morte, revelando o amor misericordioso do Pai e a vocação, dignidade e

destino da pessoa humana” (DAp 6).


Pe. Estevão Raschietti

terça-feira, 26 de maio de 2015

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA O DIA MUNDIAL DAS MISSÕES DE 2015



Queridos irmãos e irmãs
O Dia Mundial das Missões 2015 se realiza no contexto do Ano da Vida Consagrada e recebe um estímulo para a oração e a reflexão. Na verdade, se todo batizado é chamado a testemunhar o Senhor Jesus proclamando a fé recebida como um presente, isso vale, de modo particular, para a pessoa consagrada, pois entre vida consagrada e missão existe uma ligação forte. O seguimento a Jesus, que determinou o surgimento da vida consagrada na Igreja, responde ao chamado a tomar a cruz e segui-Lo, a imitar a sua dedicação ao Pai e seus gestos de serviço e amor, e a perder a vida para reencontrá-la. Como a existência de Cristo tem um caráter missionário, os homens e mulheres que o seguem mais de perto assumem plenamente esse mesmo caráter.
A dimensão missionária, que pertence à própria natureza da Igreja, é intrínseca a todas as formas de vida consagrada, e não pode ser negligenciada sem deixar um vazio que desfigura o carisma. A missão não é proselitismo ou mera estratégia; a missão faz parte da “gramática” da fé, é algo imprescindível para quem escuta a voz do Espírito que sussurra “vem” e “vai”. Quem segue Cristo se torna missionário e sabe que Jesus «caminha com ele, fala com ele e respira com ele. Sente Jesus vivo junto com ele no compromisso missionário» (EG, 266).
A missão é ter paixão por Jesus Cristo e ao mesmo tempo paixão pelas pessoas. Quando nos colocamos em oração diante de Jesus crucificado, reconhecemos a grandeza do seu amor que nos dá dignidade e nos sustenta; e no mesmo momento percebemos que aquele amor que parte de seu coração transpassado se estende a todo o povo de Deus e a toda a humanidade; e assim sentimos também que Ele quer servir-se de nós para chegar cada vez mais perto de seu povo amado (cf. ibid., 268) e de todos aqueles que o procuram de coração sincero. No mandamento de Jesus: “ide”, existem cenários e sempre novos desafios para a missão evangelizadora da Igreja. Nela, todos são chamados a anunciar o Evangelho por meio do seu testemunho de vida; e os consagrados, especialmente, são convidados a ouvir a voz do Espírito que os chama para ir rumo às grandes periferias da missão, entre as pessoas que ainda não receberam o Evangelho.
O quinquagésimo aniversário do Decreto conciliar Ad gentes nos convida a reler e a meditar esse documento que despertou um forte impulso missionário nos Institutos de vida consagrada. Nas comunidades contemplativas, retomou luz e eloquência à figura de Santa Teresa do Menino Jesus, padroeira das missões, como inspiradora da ligação íntima da vida contemplativa com a missão. Para muitas congregações religiosas de vida ativa, o anseio missionário que surgiu do Concílio Vaticano II se concretizou com uma abertura extraordinária para a missão ad gentes, muitas vezes acompanhada pelo acolhimento a irmãos e irmãs provenientes de terras e culturas encontradas na evangelização, de modo que hoje se pode falar de uma interculturalidade difundida na vida consagrada. Por esse motivo, é urgente repropor o ideal da missão em seu centro: Jesus Cristo, e em sua exigência: o dom total de si ao anúncio do Evangelho. Não pode haver tratativa sobre isto: quem, pela graça de Deus, acolhe a missão, é chamado a viver de missão. Para essas pessoas, a proclamação de Cristo nas várias periferias do mundo se torna o modo de como viver o seguimento a Ele e a recompensa de muitas dificuldades e privações. Toda tendência que desvia dessa vocação, mesmo que acompanhada por motivos nobres relacionados com as muitas necessidades pastorais, eclesiais e humanitárias, não é coerente com o chamado pessoal do Senhor para servir o Evangelho.
Nos Institutos missionários, os formadores são chamados tanto a indicar com clareza e honestidade essa perspectiva de vida e ação, quanto a influir no discernimento de vocações missionárias autênticas. Dirijo-me de modo especial aos jovens, que ainda são capazes de testemunhos corajosos e atitudes generosas e por vezes contracorrentes: não deixem que lhes roubem o sonho de uma missão verdadeira, de doar-se ao seguimento a Jesus que requer o dom total de si. No segredo de sua consciência, pergunte-se o motivo pelo qual escolheu a vida religiosa missionária e meça a disponibilidade em aceitá-la por aquilo que é: dom de amor a serviço do anúncio do Evangelho, lembrando que, antes de ser uma necessidade para aqueles que não o conhecem, o anúncio do Evangelho é uma necessidade para quem ama o Mestre.
Hoje, a missão enfrenta o desafio de respeitar a necessidade de todos os povos poderem recomeçar de suas raízes e salvaguardar os valores de suas respectivas culturas. Trata-se de conhecer e respeitar as outras tradições e sistemas filosóficos e reconhecer, em cada povo e cultura, o direito de fazer-se ajudar por sua tradição na inteligência do mistério de Deus e no acolhimento ao Evangelho de Jesus, que é luz para as culturas e sua força transformadora.
Dentro dessa dinâmica complexa nos perguntamos: “Quem são os destinatários privilegiados do anúncio evangélico?” A resposta é clara e a encontramos no próprio Evangelho: os pobres, os pequenos e os enfermos, aqueles que muitas vezes são desprezados e esquecidos, aqueles que não podem te retribuir (cf. Lc 14,13-14). A evangelização dirigida preferencialmente a eles é sinal do Reino que Jesus veio trazer: «Existe um vínculo inseparável entre a nossa fé e os pobres. Não os deixemos nunca sozinhos» (EG, 48). Isso deve ser claro, especialmente para as pessoas que abraçam a vida consagrada missionária: com o voto de pobreza se escolhe seguir Cristo nessa sua preferência, não ideologicamente, mas como Ele, identificando-se com os pobres, vivendo como eles na precariedade da existência cotidiana e na renúncia de todo o poder para se tornar irmãos e irmãs dos últimos, levando-lhes o testemunho da alegria do Evangelho e a expressão da caridade de Deus.
Para viver o testemunho cristão e os sinais do amor do Pai entre os pequenos e os pobres, os consagrados são chamados a promover, no serviço da missão, a presença dos fiéis leigos. O Concílio Ecumênico Vaticano II afirmou: «Os leigos colaboram na obra de evangelização da Igreja, participando como testemunhas e como instrumentos vivos da sua missão salvífica» (AG, 41). É necessário que os consagrados missionários se abram sempre mais corajosamente para aqueles que estão dispostos a colaborar com eles, mesmo que por um tempo limitado, por uma experiência a campo. São irmãos e irmãs que desejam partilhar a vocação missionária inerente ao Batismo. As casas e estruturas das missões são lugares naturais para o seu acolhimento e apoio humano, espiritual e apostólico.
As Instituições e Obras missionárias da Igreja estão totalmente a serviço daqueles que não conhecem o Evangelho de Jesus. Para realizar de maneira eficaz esse objetivo, elas precisam dos carismas e do compromisso missionário dos consagrados, mas também os consagrados precisam de uma estrutura de serviço, expressão da solicitude do Bispo de Roma para garantir a koinonia, de modo que a colaboração e a sinergia sejam partes integrantes do testemunho missionário. Jesus colocou a unidade dos discípulos como uma condição para que o mundo creia (cf. Jo 17, 21). Essa convergência não equivale a uma submissão jurídico-organizacional a organismos institucionais ou a uma mortificação da fantasia do Espírito que inspira a diversidade, mas significa dar mais eficácia à mensagem do Evangelho e promover a unidade de propósitos que é também fruto do Espírito.
A Obra Missionária do Sucessor de Pedro tem um horizonte apostólico universal. Por isso precisa também dos muitos carismas da vida consagrada, para se dirigir ao vasto horizonte da evangelização e ser capaz de garantir uma presença adequada nas fronteiras e territórios alcançados.
Queridos irmãos e irmãs, a paixão do missionário é o Evangelho. São Paulo afirmou: «Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho!» (1 Cor 9,16). O Evangelho é fonte de alegria, libertação e salvação para todos os homens. A Igreja é consciente desse dom, por isso não se cansa de proclamar incessantemente a todos «o que era desde o princípio, o que ouvimos e o que vimos com os nossos olhos» (1 Jo 1,1). A missão dos servidores da Palavra - bispos, sacerdotes, religiosos e leigos - é colocar todos, sem exceção, em relação pessoal com Cristo. No imenso campo da ação missionária da Igreja, todo batizado é chamado a viver bem o seu compromisso, segundo a sua situação pessoal. Os consagrados e consagradas podem dar uma resposta generosa a essa vocação universal a partir de uma intensa vida de oração e união com o Senhor e com o seu sacrifício redentor.
Confio a Maria, Mãe da Igreja e modelo de missionariedade, todos aqueles que, ad gentes ou no próprio território, em todos os estados de vida, colaboram com o anúncio do Evangelho e, de coração, concedo a cada um a Bênção Apostólica.
Vaticano, 24 de Maio – Solenidade de Pentecostes – de 2015.
Papa Francisco

Missão Ad Gentes



A missão aos povos sempre foi, é e sempre será a grande tarefa da Igreja, assumida por suas comunidades às vezes com certa resistência. Repetidas vezes se tenta minimizar, postergar ou até depreciar esse desafio, com a desculpa‐urgência que a missão está aqui no nosso meio, ou que a missão passou a ser outra coisa. Acabar com a missão ad gentes é acabar com a graça da missão. Assim como a palavra “missão”, também a palavra “míssil” vem da mesma raiz “missio”, que quer dizer “envio”. O míssil não é feito para ficar parado. Da mesma forma a Igreja também não é feita para ficar apenas constituída em suas instituições, em seus assentos e em suas estruturas: ela foi criada para pegar fogo e se lançar ao mundo. Essa é sua natureza!

Talvez o receio de invadir o espaço do outro, de importunar as culturas, de promover sem
querer uma conquista espiritual com as melhores das intenções, nos leve a um preconceito e a uma relutância contra essa perspectiva. Os traumas e as cicatrizes do passado contam de profundas feridas na alma dos nossos povos. É uma história que não gostaríamos de repetir sem mais nem menos.

É fundamental, como dissemos, ter discernimento, atitude penitencial e aprender a prestar
atenção às assimetrias criadas por sensos de superioridade e aproximações voluntaristas. Por outro lado, o Pe. Comblin nos convida também a essa interessante reflexão:
“A irredutibilidade das culturas tende a desanimar toda tentativa missionária. Em certos
casos, ela levou a propor certas posições pastorais que são válidas até certo ponto e de modo muito relativo. Assim a evangelização do semelhante pelo semelhante. O evangelho tende a mostrar que, muito pelo contrário, a evangelização radical é obra do estrangeiro. 

Uma mensagem comunicada pelo semelhante ao semelhante reduz‐se facilmente a um puro monólogo. O interlocutor ouve‐se a si mesmo e encontra prazer e satisfação na palavra, porque ele se ouve e se reconhece. Com essas condições não há evangelização possível. Pois esta vem da parte de fora e exige que o sujeito se abra a uma novidade e esteja disposto a romper os seus hábitos mentais e vivenciais. Jesus foi um estrangeiro, e todos os missionáriostambém aparecem como estrangeiros. Não procuram ocultar essa condição. Jesus não quis atenuá‐la no caso dos seus discípulos: não os mandou para os seus semelhantes e sim para todas as nações do mundo cuja cultura lhes era completamente alheia”.

E continua: “Crer na missão é também crer que há em todas as pessoas uma abertura fundamental, uma capacidade de recepção de mensagens situadas além da cultura, um apelo virtual a uma luz própria. Crer na missão é crer que a pessoa não fica presa dentro da sua cultura, isto é, dentro de uma personalidade autônoma e fechada”.25

Que o Espírito do Senhor nos ensine sempre a crer firmemente na missão, a não viver uma fé introvertida e intimista, e nos abra continuamente as portas para sair de nós mesmos, de
nossas comunidades e movimentos, de nossas paróquias e de nossas dioceses. “Para nos
converter e uma Igreja cheia de ímpeto e audácia evangelizadora, temos que ser de novo
evangelizados” (cf. DAp 549) no encontro com os povos, com os outros, com os pobres, além de toda fronteiras, como discípulos missionários comprometidos com a transformação do Brasil para um mundo melhor.

Pe. Estêvão Raschietti, sx

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Maria, Testemunho Missionário




            Maria Santíssima participou da vida publica de seu Filho Jesus Cristo e, com grande sabedoria, ouvia seus ensinamentos às multidões que se formavam em torno Dele. Ela guardava tudo que acontecia em seu coração e, na força da oração, reunia o povo de Deus encorajando-o com seus atos a cumprir a vontade do Pai, presente em Jesus Cristo.     
        
Maria foi, é e sempre será a maior missionária de nossa Igreja Católica, Apostólica, Romana. Quando Jesus partiu para o Pai, deixou a Mãe aos cuidados de João. Com os discípulos, Nossa Senhora trabalhou para que as primeiras comunidades fossem construídas.

             Assim sendo, neste mês das Missões em que refletimos um pouco mais em nossa vocação missionária recebida pelo Batismo, pedimos a intercessão da Mãe de Deus nos 5 continentes, para que o mundo seja livre, fraterno e justo, a fim de que reine a paz a todos os povos, filhos e filhas de Deus, irmãos e irmãs nossa, em Cristo Jesus.

            Rogamos a Maria pelo continente oceânico para que aqueles que detêm o poder possam buscar soluções urgentes aos maiores problemas, clamando a intercessão da Padroeira da Oceania: Nossa Senhora da Paz; invocamos a intercessão de Maria Santíssima para o continente africano, em todas as suas necessidades pedindo proteção a Nossa Senhora do Rosário, padroeira da África; suplicamos a ajuda da Mãe de Deus para o continente asiático, a fim de que os missionários possam anunciar a Boa Nova de Cristo a um povo dividido por muitas religiões e seitas, por meio da Imaculada Conceição, padroeira da Ásia; imploramos a intercessão de Maria pelo continente europeu, onde as leis mais absurdas são aprovadas, entre elas a lei do aborto, da eutanásia, da exploração da célula-tronco. Proteja a Europa Mãe Maria, na Imagem da Padroeira Nossa Senhora das Graças. Rogamos pelo Continente Americano, do qual nós fazemos parte, interceda Mãe para que aqueles que têm tanto possam pensar em quem nada tem, melhorando a vida do povo que aqui vive. Por meio de Nossa Senhora de Guadalupe padroeira da América peça que o Senhor tenha piedade de nós.

            Que possamos todos nós, alimentados pela força da Palavra de Deus, encorajados por Nosso Senhor Jesus Cristo que mora em nós através da Sagrada Eucaristia e protegidos pela intercessão de Maria Santíssima, Mãe de Deus e nossa Mãe, evangelizar, anunciar a Boa Nova do Senhor onde quer que estejamos: em casa, no trabalho, nas escolas, em nossa vizinhança e em nossa comunidade com o nosso testemunho e com o desejo de um mundo melhor.