segunda-feira, 1 de junho de 2015

Paróquia Missionária - parte 2



Possibilidade de a paróquia ser missionária hoje?

Medellin, Puebla, Aparecida e o documento 104 da CNBB falam que a saída é a paróquia se tornar comunidade de comunidades.

Eu acredito nisso, sem dúvida. Mas, me pergunto que tipos de comunidades precisamos ter para que a paróquia seja diferente. Já experimentamos as comunidades Capelas, que são uma sucursal da paróquia. Podemos criar muitos outros tipos de comunidades, mas elas podem se ser sugadas pelo sistema paroquial, se adequar a esse sistema e não resolver absolutamente nada. Serão grupinhos num sistema falido. É remendo novo em calça velha.

Eu opto pelas CEBs...
Origem das CEBs: nasceram na América Latina no final da década de 1950 (cf. BOFF, 1978, p.57), tiveram grande incentivo pelas reflexões do Vaticano II e foram ratificadas pela Teologia da Libertação e vários documentos eclesiais latino-americanos. A Conferência de Medellin definiu as CEBs como rosto de uma Igreja pobre, núcleo de estruturação eclesial e fator primordial da promoção e desenvolvimento humano (cf. Med 15,10). Aparecida, consonante com Medellin, reassumiu as CEBS na perspectiva da revitalização da paróquia, mas pediu respeito à Tradição e ao Magistério da Igreja (cf. DAp 179).

Por que “comunidades eclesiais de base”? 
Porque tem base eclesial tipicamente popular e conseguem fazer a interação e se integrar com a sociedade por laços afetivos, emocionais, históricos, culturais e religiosos. Eclesialidade é por buscar a salvação. Por serem pequenas, facilitam as relações humanas diretas, de auxílio mútuo, de igualdade entre os cristãos e não necessitam de estruturas burocráticas rígidas. Vivem do carisma próprio de cada um posto a serviço da comunidade. Buscam pensar e celebrar a fé e a missão em comum e a partir do contexto sociocultural. Pela situação geográfica e por serem pequenas, têm em conta as várias problemáticas pessoais, familiares ou profissionais de seus membros. Em termos de fé e pela proximidade com a realidade, partem sempre do real para o ideal.

CEBS e “poder simbólico”. Esse poder também existe nas CEBs, mas ele não é exercido por uma única pessoa, sim pela relação estreita dos carismas existentes. Essa relação constitui uma mentalidade popular e edifica uma estrutura tipicamente laical popular, com poder descentralizado, distribuído e revezado entre seus membros. O “poder simbólico” gerido pela mentalidade laical promove a interlocução na missão e nas decisões, motiva o carisma pessoal como serviço comunitário e personaliza a Igreja colegial. As regras são construídas pela situação, contexto e problemas da própria localidade geográfica. Os valores morais advêm do contexto e da experiência de fé dos seus integrantes. Vive-se a fé a partir da ação comunitária real no presente em vista do futuro.

A experiência religiosa das CEBs se desenvolve pela mentalidade comunitária e, principalmente, em torno da Palavra de Deus. Esta dirige e influencia a vida de todos. Muitas CEBs praticam a devoção, principalmente pela reza do terço. Elas se articulam de modo eclesial e orgânico com a religiosidade popular e com os movimentos sociais e de direitos humanos. O cristão das CEBs se reúne para refletir a Palavra e a vida à luz da fé, reza, quer justiça, compromisso e é devoto (cf. FERNANDES, 2012, p.199).
O problema: A compatibilidade entre CEBs e Paróquia
Tensão entre dom hierárquico (instituição-paróquia) e dom carismático (popular-CEBs). A Tensão entre carisma e instituição não é novo na Igreja e remonta a época da patrística quando a heresia do montanhismo deu ênfase à dimensão carismática e fomentou uma religiosidade estática, sectária e antihierárquica. Desde então surgiu a suspeita anticarismática que durou até o Vaticano II ou até hoje (CODINA, p. 70).

O Vaticano II confirma essa força ao dar relevo a presença do Espírito Santo na Igreja pelos dons hierárquicos e carismáticos (cf. LG 4). Juntos, os dons hierárquicos e carismáticos são úteis e necessários para a missão, que não são dados para o bem de uma só pessoa, sim para o serviço à Igreja (cf. LG 12). Os “carismas”, são a força dialética de transformação e de desestruturação do que está fixo e injusto (cf. DUSSEL, 1977, p.46).

Os dons hierárquicos, proveem a Igreja de organização estrutural, hierárquica, ritual e de visibilidade ao mundo. Mas, quando a hierarquia ou as controvérsias dogmáticas são priorizadas, a participação popular é insignificante e esse dom enfraquece. A instituição pode também destruir a comunitariedade para substitui-la por regras formais e coletivização de vida.
Os dons carismáticos ajudam a Igreja a valorizar os carismas existentes em cada situação e contexto. A missão tem atuação mais social, popular, evangelizadora e plural, como é o caso das CEBs. Mas, se a Igreja ficar refém só desses dons, haverá a radicalização ou da dimensão religiosa ou da dimensão social, produzindo um vazio teológico e conduta subjetivista ou de ativismo, impedindo a visibilidade dos carismas.

A compatibilidade desses dois dons estabelece a convivência da diversidade, aprimora o desenvolvimento da missão e ajuda a Igreja a dar atenção às suas próprias
estruturas, diminuindo o risco delas mesmas (as estruturas eclesiais) se tornarem sistemas de dominação, fechados e distantes do mundo.
A compatibilidade entre esses dois dons depende de uma mentalidade que tenha abertura ao novo, que conceda ao sistema paroquial acolher melhor os dons carismáticos e às CEBs a não temer a estrutura institucional. Só há novas estruturas se houver esperança e vontade de transformá-las. O fechamento ao novo conjuga falta de vontade com a falta de esperança: “a esperança é abertura para a mudança e a novidade” (COMBLIN, 2005, p. 49).

Concluindo:
Os bispos do Brasil observam que a paróquia está estruturalmente inchada, pouco missionária e inibida diante dos vínculos humanos e sociais. A conclusão atual mais comum para resolver esse marasmo paroquial é setorizá-la para melhorar o atendimento e aumentar as lideranças e ministérios (cf. CNBB, 2013, n.154). A meta da setorização é descentralizar a paróquia e torná-la uma comunidade de comunidades.
Mas, contemplar apenas a setorização sem comunidades teremos estruturas sem vitalidade, sem relação e improdutivos.

Também, não basta apenas criar comunidades a partir de setores se estas não tem uma dinâmica própria que lhes dê visibilidade no território paroquial.

A nosso ver, as CEBs são uma experiência consolidada no Brasil, tem uma caminhada própria que as possibilitou construir uma diretiva regional e nacional. Elas estão bem preparadas para conviverem com a institucionalidade da paróquia sem serem absorvidas por esta. Não queremos dizer que todas as paróquias deveriam ter as CEBs como elementos de setorização. Impor uma padronização não é saudável. Mas, é importante pensar que muitas dioceses e paróquias que já tem a experiência das CEBs e não terão problemas em setorizar pelas CEBs.

Ao mesmo tempo, as CEBs não podem ser sufocadas por ações típicas da paróquia como: formas administrativas clericais, burocráticas e sacramentais. Se assim for, elas perdem o carisma, e não ajudarão a paróquia. É preciso respeitar os espaços.

O projeto:
Primeiro: começar em apenas uma comunidade. Fazer o processo em todas as comunidades da paróquia ano mesmo tempo é querer enquadrar todos num mesmo ritmo, isso é desumano. A comunidade que iniciará o processo irá passar pela formação, setorização, oração e reflexão da Palavra de Deus em famílias. Descobrirá a necessidade em mudar a mentalidade, em respeitar seu próprio ritmo e em suscitar mais CEBs a partir dela mesma, pela riqueza da experiência comunitária em que passa. As etapas desse primeiro processo poderão levar um ano ou mais. Depende do ritmo da comunidade.

Segundo: ajudar outra comunidade. Após a vivência do seu próprio processo, a comunidade que fez o processo irá ajudar outra comunidade a fazê-lo. A segunda
comunidade terá suas próprias características na vivência dessa experiência e isso precisa ser levado em contra.

Terceiro: continuar a viver sua experiência. A experiência da primeira comunidade não se conclui após a vivência de um ano ou mais. Ela continuará a viver sua experiência, mesmo ajudando as outras. A permanência missionária se efetivará na ajuda mútua de uma comunidade para com a outra e na continuidade do processo de cada uma.

Tudo precisa ser feito em reflexão e elaboração conjunta, a partir de todas as forças paroquias: pastorais, movimentos, lideranças e quem quiser participar. A não participação de todos põe em risco a setorização. Como a vivencia comunitária é formativa, a formação comunitária e missionária será contínua. Para a primeira formação, os temas podem falar dos fundamentos da fé cristã, como por exemplo: Comunidade, discipulado de Jesus, Santíssima Trindade, missão, encontro com Jesus, conversão, carismas e ministérios do Espírito Santo, visitação às famílias, etc. É importante que cada comunidade faça o seu processo, nunca prescindindo da outra. O importante é respeitar o ritmo de cada comunidade e os objetivos de setorizar, suscitar CEBs e viver a comunitariedade pela fé. Vale a pena lembrar que o Reino de Deus não pode ser construído de modo prematuro e arbitrariamente, mas no respeito ao outro e no processo.

Pe. Gelson Luiz Mikuszka

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